De volta depois de muito tempo. Sigo a minha sina de viver
no meio de um fogo cruzado. De um lado a hipoglicemia, que me faz acordar todo
dia com um maldito enjoo e aquela maravilhosa sensação de que vou morrer. Do
outro lado os desatinos de um estômago que resolveu me pegar para Cristo e me
fazer pagar por todos os pecados acumulados ao longo de minhas reencarnações.
Queimação 24 horas e uma crise semanal que começa com uma cefaleia, dorzinha
maldita que aparece sempre acima do olho esquerdo. Essa cefaleia é o sinal de
que o que já está ruim vai ficar pior ainda. Com ela vem o enjoo, com o enjoo os
vômitos, e de mãos dadas com os vômitos vem a diarreia. A situação fica cômica
quando tenho que vomitar e cagar ao mesmo tempo. Outro dia, sentado no vaso
sanitário, levantei-me muito depressa para vomitar e dei com a testa na
torneira da pia do banheiro. A bunda borrada, a pia toda lambrecada e um galo
na testa. Tem vez que depois de vomitar e cagar até a alma, a coisa melhora.
Tem vez que só melhora quando vou para o hospital receber medicação na veia.
Aí, minha gente, aquele tempo que passo com o soro entrando pela veia são
minutos que passo no inferno. Um mal-estar lascado, uma irritabilidade do cão.
Minha vontade é de sair gritando feito louco. Mas gritar pra quem? Gritar pra
quê? Este é o prato que o restaurante da vida me serve. É o único que tem. E
tenho que comê-lo tentando me consolar dizendo a mim mesmo: tem gente mais
lascada do que eu neste mundo. E o pior é que tem.