sábado, 25 de fevereiro de 2012

Não volte mais!

Dia 23/02/2012 foi um dos mais terríveis dias de minha vida. Depois de tirar sangue pela manhã para exames e fazer uma endoscopia, passei o resto do dia com o estômago hiperazedo. Resultado: dor de cabeça, mal-estar, enjoos, náuseas e, por fim, pronto-socorro. Como não quero que você passe mal nem adoeça lendo este blog, vou procurar narrar com menos sofrimento, mais levemente, a desgraceira que foi. Por volta das 20h cheguei à clínica onde tinha feito a endoscopia. Minha esposa havia ligado para a doutora, de quem sou paciente, e a mesma disse que queria me ver antes de me encaminhar para o pronto-socorro. E lá vou eu, já pedindo a Deus que mandasse a morte como alívio, passar por uma "consulta". A doutora me olhou, apertou a barriga, prescreveu remédios (aqueles de sempre, que nada resolvem), falou que a endoscopia foi ótima, que eu não tinha com que me preocupar, não tinha nada de mais grave (e eu morrendo) e me mandou para o pronto-socorro, onde, segundo ela, o Dr. responsável pelo plantão me receberia ao som da orquestra sinfônica de Berlim. Ótimo, pensei eu. Pelo menos vou chegar lá, me enfiarão logo numa maca e o soro na veia, eu apago e acordo novinho em folha. Ledo engano. O negócio é o seguinte, enquanto a ficha não fica pronta e a operadora de plano de saúde não autoriza, pode gemer, minha nega. Se tiveres que morrer, morrerás. A indicação de seu médico vale menos que dez centavos de real. Até me puseram pra dentro do pronto-socorro, me aprontaram uma maca, mas alívio pro meu sofrimento nem pensar. Fiquei uns 40 minutos com o Diabo sentado numa cadeira ao lado, olhando pra mim e cantando sua canção preferida. Um carinha, pra aumentar a desgraça, foi lá medir minha pressão. Certamente alguém deve ter dito "pelo menos mede a pressão do cara, vai que dá de morrer aqui dentro. Por falar nisso, quem foi o filho-da-puta que pôs esse cão sarnento pra dentro do pronto-socorro?". Pois eu digo quem foi: foi o segurança, com uma cara feia e contrariado pra burro. Por ele eu ia gemer lá na calçada. Nessa hora, minha gente, semo tudo indigente. Bom, mas enfim lá estava eu à espera da beneplacência da operadora de saúde. Se ela dá pra trás, aí sim eu tava ferrado de vez. Então parei de rogar a Deus a morte, porque pelo risinho sádico do Cão eu vi que não morreria, passei a rogar à operadora de saúde. Rezei, rezei, rezei. Pimba! Eis que o Dr., com aquela calma de sempre, depois de já ter estado comigo umas 3 vezes dizendo "já já te atendo", vem com a medicação. 
E aí eu queria entender certas coisas que não dá pra entender. Se o nome do troço é pronto-socorro, não deveria haver lá um prontoatendimento? As pessoas não deveriam ser recolhidas de imediato e medicadas? Na verdade, o hospital trata a gente como objeto de um negócio que ele tem com a operadora de plano de saúde. As operadoras pagam para que o hospital nos atenda. Então tudo se resume numa questão: "quem é que vai pagar a conta?" Como é a operadora que paga, enquanto o médico não tem o sim dela você fica lá na fila de espera, que começa com a retirada de uma senha saída de uma máquina. Bacana, você morrendo pega uma  senha com 4 mil pessoas na frente. Um absurdo isso. Cadê a tão propagandeada humanização do atendimento? O desespero é tão grande que acontece de a pessoa chegar no médico já curada. Esperou tanto, sofreu tanto que quando o médico pergunta "o que o senhor tem?", o cara diz: "nada, doutor, me sinto ótimo". Tá rindo né? Mas isso já aconteceu comigo. A espera, ou melhor, a agonia me curou. E há casos em que a pessoa simplemente se levanta do banco (banco uma ova, uma cadeira horrível sem conforto nenhum) e vai pra casa. Duvideodó que o filho do médico diretor do hospital passe pelo pronto-socorro do hospital que ele dirige. Pra fazer justiça, deveriam corrigir a inscrição 'pronto-socorro', que está na fachada, pela frase de ordem "não volte mais aqui!". Porque naquele pronto-socorro onde estive não volto nunca mais. Morro, mas não volto. Palavra de escoteiro!

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